sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Uma entrevista com Pablo Capilé, do Fora do Eixo – Parte 3

51) No começo deste ano, o Fora do Eixo publicou na internet o glossário do FDE: termos que devem ser conhecidos e usados por todos os militantes. Outros coletivos fizeram críticas, o FdE tirou o texto do ar, depois republicou, mas com alterações. A principal: eliminou o verbete "choque pesadelo". O verbete era assim: "Choque pesadelo: Embate conveniente direcionado a alguém que vem conflitando ideias através de críticas não propositivas que desestimulem uma pessoa, ou grupo. O choque pesadelo serve como uma fala direcionada que busca esclarecer situações através do "papo reto". Ex. Tivemos uma conversa franca que serviu como choque pesadelo para ele. Ler também "papo reto". Pode explicar?
O glossário é um conjunto de ‘gírias’ e jargões utilizados pelos coletivos da rede. Eles vão sempre se ressignificando com o tempo e o processo, alguns verbetes ficam, outros são aperfeiçoados. Foi o que ocorreu.
52) Muitos críticos do FDE dizem que o Fora do Eixo é uma seita, com regras rígidas para todas as ocasiões. O fato de existir um glossário tão detalhado não dá razão aos que criticam o FDE por ser uma espécie de seita?
A tentativa de classificar a rede Fora do Eixo como seita religiosa busca explicitamente difamar o projeto. A criminalização de experiências dos coletivos e redes com princípios comunitários, prejudicam não só a rede, mas todos que buscam alternativas concretas de colaboração fora dos padrões convencionais do mercado. O glossário, como eu disse, é apenas uma tentativa de registrar os vocabulários vivos que vão sendo desenvolvidos, mas está longe de definir nossa forma de atuação e ação.
53) O que é "catar e cooptar?"
Pergunte para quem nos acusa disso, esse termo não é sério o suficiente para merecer uma resposta.
54) Embora o FDE se apresente como uma rede, ex-integrantes do FDE dizem que a estrutura é totalmente verticalizada, e que você é como um guru na organização - jamais é questionado por ninguém. Quais outros integrantes do FDE têm influência próxima à sua?
As diversas acusações sobre a presença de uma liderança autoritária, projetada em mim, implicam mais uma vez na tentativa de caricaturizar novas formas de relação para além de polaridades e maniqueísmos, desqualificando os demais indivíduos da rede.
As lideranças da rede resultam, como em qualquer outra, da dedicação ao coletivo e seus participantes; e obtêm sua legitimidade e reconhecimento internos de acordo com ela.
A influência dos integrantes faz parte de uma complexa arquitetura, com diversas camadas temáticas e geográficas. Não existe uma relação linear entre influência e lideranças. Diversas decisões são tomadas e executadas diariamente sem a minha participação, e assumo as responsabilidades que a rede deposita e espera de mim. E digo mais, são poucos os movimentos com tantas lideranças espalhadas por tantos estados como o Fora do Eixo!
55) Muitos coletivos de esquerda e movimentos populares não se dão com o Fora do Eixo. É o caso do Movimento Passe Livre, do MST, Movimento Hip Hop, Ocupa São Paulo e vários outros. A que você atribui essa rejeição?
Existe algum ponto de consenso nos movimentos sociais? O que existe, no nosso entendimento, é um espaço enorme de diversidade e de disputa de narrativas e alinhamentos a partir dos valores e interesses dos movimentos. Acho complicado mais uma vez transformar dissenso, que é algo natural das sociedades democráticas, em uma questão moral que distorce a realidade.
O Movimento Nacional dos Direitos Humanos, o Movimento Ação Griô, o Movimento de Povos de Terreiro, a UJS, e vários movimentos Ambientais, Sociais e Culturais são nossos parceiros. Não conhecemos nenhum movimento que seja um consenso absoluto dentro das lutas sociais que são realizadas no Brasil e no Mundo, e isso deveria ser visto como algo natural, sem alarme e tanto alarde. Alarmante é a forma como determinados setores da cultura e da mídia brasileira tem reagido a uma pequena "ameaça" aos modelos vigentes de produção cultural e comunicação.
56) Um conhecido jornalista de esquerda, José Arbex, escreveu um texto com críticas pesadas ao Fora do Eixo, em 2011, na revista Caros Amigos: "Lulismo Fora do Eixo". Ele conta que durante a preparação da Marcha pela Liberdade, em maio de 2011, você mencionou a possibilidade de a Coca-Cola patrocinar a marcha, e que a Coca nem fazia questão de sua marca aparecer --era só pra ficar bem com os movimentos progressistas. Outros coletivos rejeitaram o patrocínio. Várias pessoas contaram a mesma versão dessa história. Isso é verdade? Se não é, exatamente o que você disse nessa reunião? Se isso não é verdade, o que foi que você disse nessa reunião?
Isso é grande mentira. A Coca-Cola nunca ofereceu patrocínio para marcha da Liberdade ou para a rede Fora do Eixo. Essa possibilidade nunca nem foi cogitada. Não é à toa que nem em nossas festivais recebemos esse apoio ou patrocínio. Mais um mito que visa difamar a rede. O que existiu foi um debate sobre financiamento privado de coletivos e movimentos. E o José Arbex escreveu aquilo sem sequer nos conhecer, nunca visitou uma casa ou coletivo da rede, e tampouco nos entrevistou. Ele fez aquele texto usando terceiros como fonte.
57) O coletivo de esquerda chamado Passa Palavra se destaca nas críticas ao Fora do Eixo. Em um texto muito alentado, de 2011, eles afirmam que: a) o Fora do Eixo tem 57 CNPJs diferentes; b) o FDE é uma máquina de ganhar editais, que floresceu nas gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira no MinC, por meio do programa Cultura Viva, dirigido pro Claudio Prado. Segundo o Passa Palavra, o FDE participava da elaboração de editais da área digital do Minc, editais esses que eram vencidos pelo próprio FDE. Como você responde a essas acusações?
Todas equivocadas e mentirosas. Não temos 57 CNPJ’s diferentes, Claudio Prado não dirigiu o Programa Cultura Viva e nunca participamos de elaboração de editais da área digital do MinC. O Passa Palavra sempre fez críticas infundadas à rede Fora do Eixo. Os artigos sempre foram elaborados em cima de “achismos”. Nunca fomos pesquisados de fato por eles, nunca sequer visitaram as casas ou entrevistaram alguém que vivia ali. Achamos que para fazer um texto que quisesse de fato contribuir com as leituras sobre o atual momento, tomando uma rede com práticas tão novas como estudo, para evitar os preconceitos deveria ter havido uma pesquisa séria sobre o tema, deixando o outro lado da história ser ouvido. Na época, propusemos vários debates públicos com integrantes da rede e eles se esquivaram de todos.
58) O Fora do Eixo começou em Cuiabá, com o Festival Calango. Esse festival não existe mais, apesar do crescimento da FDE. Por quê?
O Festival Calango desempenhou papel fundamental para a cena cuiabana e para o crescimento do Fora do Eixo enquanto rede, pois possibilitou a abertura de diversas rotas, e junto a outros festivais, a consolidação de um circuito nacional de artistas, produtores e jornalistas. Acreditamos que com o papel que exerceu até aqui ele cumpriu seu ciclo.
59) Você já disse defendeu várias vezes de que os artistas que tocam em festivais não deveriam receber cachês. Por quê?
O Fora do Eixo sempre defendeu a sustentabilidade dos artistas como princípio, não estamos ajudando a construir uma rede nacional de música à toa. Quem ajuda na construção de rede de Festivais, circuito de turnês, sistemas de distribuição, intercâmbios internacionais e regionais, debates, oficinas e etc está pensando em sustentabilidade o tempo inteiro. E sustentabilidade não é somente cachê! Não há uma defesa para que os artistas não recebam, e sim que entendam o festival como uma plataforma de formação de público, para quem ainda não tem público formado. E mesmo assim os festivais todos buscam remunerar os artistas com os recursos que tem.
Qualquer profissional que pretende atuar no mercado de trabalho deve construir um plano de carreira pro seu empreendimento ou ser contratado por alguma empresa/ instituição. Alguns optam por serem músicos contratados de outros artistas, de estúdios, escolas e instituições de ensino, bares ou casas de shows covers. Os que optam pelo seu próprio empreendimento, devem investir para ganhar solidez a médio e longo prazo, assim como qualquer empreendimento. Nesse contexto acredito que muitos artistas deveriam encarar os festivais como parte desse investimento inicial, aproveitando dos ativos de cada localidade como formação de público, divulgação local, contatos e oportunidades de negócios pra sua própria carreira. Especialmente se é a primeira vez do artista naquele local e se o contratante não é uma empresa, corporativa, com condições de pagar seu cachê, independente dos prejuízos.
Cabe ao artista querer ou não aceitar essa condição, como também cabe ao produtor fazer sua proposta para a banda, levando em consideração a carreira dessa banda, seu reconhecimento por parte do público e sua qualidade sonora. Muitas bandas que estão começando, tem a oportunidade de tocar para mais pessoas, pois está no mesmo local que o público das diferentes atrações, que por consequência acaba conhecendo a banda.
60) Se os artistas não ganham para tocar, não ganham para divulgar música na internet, e o mercado de discos está em baixa, do que os artistas devem viver?
Primeiro, que não podemos afirmar que os artistas não ganham pra tocar, sem levar em conta o processo histórico de desenvolvimento do mercado de música independente no Brasil. O problema da sustentabilidade do artista independente não está ligado apenas as mudanças trazidas pelas novas plataformas, mas é um problema histórico.
Para quem tem um pouco de memória e mais de 23 anos é notório que o cenário da musica independente brasileira até o inicio dos anos 2000 era bem diferente. Em quase todas as cidades do Brasil os pouquíssimos espaços voltados pra música ao vivo eram dominados pelo cover. Banda autoral não tinha espaço pra se apresentar, e quando tinham não recebiam.
Neste sentido, nosso entendimento é que a a construção de plataformas coletivas, e a luta pela organização do setor musical e políticas públicas estruturantes são desafios fundamentais para a sobrevivência dos artistas nos dias de hoje. Para nós está claro que apenas a livre concorrência do mercado é uma lógica excludente e que não resolve o problema, e isso está comprovado historicamente.
Ou seja, não podemos tratar a questão de forma simplista, como se estes problemas estivessem sendo colocados agora pelas mudanças trazidas pelo Digital e também por uma discussão sobre cachês em festivais.
61) O FDE agencia shows? De que artistas? Como o FDE é remunerado por agenciar shows?
Não, não agenciamos shows.
62) Os festivais independentes de rock brasileiros eram reunidos, desde 2005, numa entidade chamada Abrafin. Qual a relação atual entre a Abrafin e o Fora do Eixo?
A Abrafin, a partir da saída dos dissidentes e da mudança de sua forma de gestão, com a criação dos circuitos regionais e a descentralização dos processos passou a se chamar Rede Brasil de Festivais. A Rede possui um grande número de festivais realizados por coletivos ou agentes ligados ou não ao Fora do Eixo. A relação com a Rede Brasil de Festivais é a mesma que tínhamos desde o inicio da Abrafin. Dar suporte à organização e gestão deste laboratório de conexão entre produtores. Vale lembrar que desde o início os produtores do Fora do Eixo contribuíram com a entidade, oferecendo quadros para auxiliarem na gestão, independente dos cargos ocupados. Nossa relação é a mesma com outras redes de cultura: incentivar e contribuir para o desenvolvimento de ações coletivas e associativas.
63) Em 2011, treze festivais independentes, incluindo alguns dos mais importantes do Brasil, como o Goiânia Noise e o Abril Pro Rock (de Recife), abandonaram a Abrafin. Alegaram que o FDE tentava impor um paradigma único a todos os festivais. E que os festivais se viam obrigados a chamar sempre os mesmo artistas ligado ao FdE. O que aconteceu de fato na Abrafin?
Primeiro que não cabe esta afirmação de modelo único e artistas ligados ao FDE. A questão foi uma discordância entre os festivais sobre o modelo de gestão. Nós entendíamos que os festivais tinham aumentado muito, naquele momento já tinham mais de 40 filiados e uma fila enorme de pedidos de filiação, já que o próprio nascimento da Abrafin deu visibilidade a esta plataforma que se espalhou pelo país inteiro, junto com o Fora do Eixo.
Neste sentido, propomos uma nova arquitetura, com a criação de circuitos regionais, para descentralizar a gestão e fazer acompanhamentos mais próximos. Ao mesmo tempo, a nova gestão  fez a proposição de ao criar os circuitos regionais diminuir o número de edições necessárias para a entrada na entidade, porque acreditava ser perverso a lógica: faça 3 edições e se sobreviver entre para o grupo seleto dos vencedores, já que entendia-se que os festivais nas suas edições iniciais necessitam mais ainda de suporte, principalmente na troca com os festivais mais experientes.
Ao contrário disso, a proposta dos festivais que saíram era que a entidade se fechasse, não recebendo mais filiados, o que para a maioria ia contra aos princípios associativos que deveriam marcar a entidade. Existia uma visão clara entre o protecionismo deliberado pelos festivais que saíram e a necessidade de ampliar os diálogos e abrir a entidade para toda esta gama de festivais que tinham nascidos inspirados pela própria Abrafin. A partir disso, como existia uma mudança organizacional entendida como necessária pela maioria dos festivais filiados naquele momento, implementamos os circuitos regionais e descentralizamos o processo de gestão, enquanto os insatisfeitos saíram e montaram depois sua entidade.
No nosso entendimento, a saída e nascimento de novas entidades fazem parte do processo de amadurecimento político do próprio segmento musical brasileiro. Pessoas com ideias similares se juntam e trabalham a partir disso. Hoje a rede se divide em 6 circuitos regionais, e lançará em breve um calendário 2013/2014 com 130 festivais integrados.
64) Você tem a informação de que festivais que abandonaram a Abrafin passaram a receber menos patrocínios? A que atribui isso?
Não temos estas informações até porque não sei o valor dos patrocínios que eles recebem, porquê não tem isso publicado em nenhum lugar acessível. Desta forma não dá pra atribuir isso a qualquer coisa. Inclusive acho que esta pergunta faria mais sentido a eles do que a nós. Contudo, nos últimos anos o mercado musical independente teve uma queda no investimento privado.
A Petrobras teve seu edital de festivais encerrados e o Conexão Vivo que era outra plataforma que investia bastante no setor acabou com a compra pela Telefônica da Vivo. Acho que eles estão vivendo o mesmo cenário que nós vivemos. Mas é só pegar o ultimo resultado do edital de festivais da Petrobras que fica mais claro isso pra você!
65) Vários artistas - o cantor China, o Daniel Peixoto (do Montage) e o Márvio dos Anjos (do Cabaret), entre muitos outros - relatam que os festivais do Fora do Eixo têm como características a infraestrutura muito simples e o não-pagamento de cachê, exceto em casos muito excepcionais. Se a infraestrutura é básica, não tem cachê, e os festivais são feitos com dinheiro de editais, para onde vai o dinheiro que sobra? Ou não sobra?
Os cachês não são exceções e menos de 30% dos festivais tiveram recursos captados via edital público, dos 100 festivais integrados a Rede Brasil de Festivais Independentes, tem de grandes festivais com ótimas estruturas quanto a pequenos que ou estão começando ou tem pouco recursos. Em 2012 foram 107 festivais  e 19 tiveram recurso via edital público o restante é feito com parcerias locais, pequenos patrocínios e ou recursos de bilheterias e bar. Em 2013 serão 130 festivais e ainda não temos todos os dados porque a maioria dos festivais acontecem agora a partir de agosto, e muitos ainda estão em processo de captação, buscando apoios, parcerias, etc.
Importante destacar que cerca dos 40% dos festivais da RBFI não são de coletivos do Fora do Eixo e integram a rede com o intuito de trocas de tecnologias de produção e alcance em divulgação. Nos festivais de coletivos da Rede Fora do Eixo que são realizadas com dinheiro público via edital todo o recurso é destinado para o próprio festival, para financiar estrutura, logística, produção, cachês, alimentações, transportes, divulgação e diversos outros servições necessários para a realização do mesmo. O mercado da música independente nacional e não apenas em grandes centros urbanos está em gestação, atingindo cada vez mais cidades do interior do país, criando uma nova agenda no circuito independente em progresso.
É visível para quem circula essas cidades e festivais um salto nas estruturas de palco, som, iluminação, atendimento, hospedagem, alimentação, cada vez mais os produtores e coletivos se qualificam. É claro que necessita de aprimoramento ligados à diversas questões estruturais do país e do setor cultural, passando por avanços nas políticas públicas para a cultura bem como maior investimento do setor privado em um mercado emergente.
66) A cineasta Beatriz Seigner divulgou um longo depoimento no Facebook. Cita um jantar na casa da diretora de marketing da Vale, onde ela e você estavam. Segundo o texto dela, você disse que era "era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”. Esse diálogo aconteceu?
Não, o diálogo foi apresentado de forma completamente distorcida por Beatriz Seigner. A fala que o duto seriam os artistas e que é por onde passa o esgoto nunca aconteceu. Isso poder ser confirmado por relatos de outras pessoas que também estavam presentes na ocasião. A discussão sobre os dutos que fazemos é sobre as plataformas de circulação e distribuição cultural que são prioridade de debate no Brasil.
A realidade que persiste ainda é da grande dificuldade de artistas e atores culturais de localidades fora do eixo como Rio Branco, Cuiabá, Macapá, Santa Maria, entre outros, sairem de suas cidades e circularem pelo país. Hoje o Estado não consegue dar conta dessa demanda e os dutos são os sistemas de circulação e distribuíção criados como alternativas independentes para circulação cultural.
Dentro da rede Fora do Eixo existem dutos da Música, do Audiovisual, das Artes Visuais, do Midialivrismo, da Formação Livre, entre muitos outros, que nada mais são do que as plataformas de circulação e distribuição temáticas da rede.
67) Beatriz também diz que seu filme "Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano" foi exibido em sessões que contavam com patrocinadores, mas que o dinheiro ficou sempre com o Fora do Eixo; ela não recebeu nada pela exibição durante os festivais Grito do Rock, e só conseguiu receber o dinheiro do SESC depois de muito insistir com o FDE. Isso é verdade?
Não. O SESC entrou como apoiador na sessão que ocorreu em São Carlos e como parceria em Bauru, com os coletivos locais. Nas duas ocasiões a negociação foi realizada diretamente entre o SESC de cada cidade e a empresa de Beatriz, a Miríade Filmes e Produções Artísticas Ltda. Nas duas cidades a parceria com o SESC foi somente para viabilizar essa sessão, portanto nenhum dinheiro foi para o coletivo local. Além disso no próprio contrato, há a discriminação de 50% para cachê e 50% para transporte, hospedagem e alimentação, sendo que as duas últimas necessidades foram supridas pelo próprio coletivo, no caso de Bauru por 3 dias e no caso de São Carlos 2 dias.  Para compreender a questão, sugerimos a leitura do Relatório postado no portal Transparência FdE, bem como, uma análise do Jornalista Francisco Bosco, no O Globo, e do advogado, produtor de cinema independente e professor de Produção Cultural da UFPel (Departamento: Centro de Integração do Mercosul), Rafael Geber Andreazza.
68) Diz que lhe foi pedido que seu filme tivesse o crédito "Realização Fora do Eixo", embora o filme não tenha sido produzido pelo FDE. Isso é uma prática comum? Você considera isso um pedido normal?
O investimento realizado pelo Fora do Eixo na difusão do filme “Bollywood Dreams” teria custo superior a R$100.000,00 se fosse calculado e cobrado por uma empresa comum. A proposta de aplicar a marca do Fora do Eixo em seu filme se deu a partir de nossa compreensão dessa troca. Beatriz não aceitou, cobrando da rede sua cota mínima de patrocínio de R$ 50.000,00 em moeda corrente. Mesmo com sua recusa, entendemos que era importante realizar o investimento para fortalecer nossa  parceria e fomentar o audiovisual independente.
69) Todo o depoimento de Beatriz é muito crítico ao FDE e a você pessoalmente. Como você responde a ele?
Não tenho nada a responder do ponto de vista pessoal. Todo debate que se deu até aqui, da minha parte, foi do ponto de vista político, metodológico e conceitual. E assim será tratado até o fim.
70) "Fora do Eixo" é marca registrada. O registro no INPI é da Globo Comunicação e Participações. Pode explicar? Aqui está o registro:
NCL(8) 3582861623009/08/2006FORA DO EIXORegistroGLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S.A.NCL(8) 41
Esta marca Fora do Eixo possivelmente é referente ao programa de televisão da SporTV: http://sportv.globo.com/videos/fora-do-eixo/
Nenhuma relação com a rede cultural Fora do Eixo.
72) O Fora do Eixo vem recebendo mais e mais críticas. Agora, também de ex-integrantes do FDE. Alguns preparam publicações de novos depoimentos contra o FDE. Certamente, a imprensa vai investigar ainda mais.
Temos consciência que o debate sempre marcou nossas relações na busca pela coerência entre o discurso e a prática. Buscamos encarar as críticas como combustível para nossas reflexões e incentivo à reinvenção diária à que nos dispomos. Estamos em processo e temos consciência das dores e das delícias à que estamos expostos.
73) Com tanta publicidade negativa, dificilmente o FDE continuará recebendo apoios e patrocínios na mesma escala - afinal, empresas não querem risco na hora de escolher quem patrocinam. E necessariamente todas as contas do FDE serão examinadas com cada vez mais rigor. O Fora do Eixo - e portanto Mídia Ninja, Abrafin, Pós TV, Casas FDE, Universidade FDE etc. - está em risco de desmoronar de repente?
Vivemos num momento de grandes mudanças. As jornadas de junho no Brasil, alinhadas a diversos movimentos que correm o mundo todo hoje, mais as mudanças tecnológicas vividas recentemente nos colocam no olho do furacão, neste processo de mudanças sociais dramáticas, trazidas pelo Digital.
Somos um laboratório de experiência de rede digital único no Brasil e talvez único em todo o mundo. Trabalhamos fortemente nos últimos 10 anos dentro do circuito cultural e a pelo menos três anos estamos num diálogo constante com diversos setores da sociedade brasileira. Fazemos tudo isso de forma aberta e transparente entendendo que somos Beta, e que estamos em processo permanente de atualização. E pra completar tivemos uma enorme visibilidade nos últimos dias com o sucesso e quantidade de questionamentos que a Midia Ninja teve e trouxe.
Como movimento fortemente enraizado nas redes sociais, também recebemos os ônus e bônus de tudo que acontece ali. Ou seja, natural que um movimento que questiona sistemas de representatividade na rede, receba primeiramente os resultados disso. Pra gente essa é uma oportunidade grande de aprendizado para melhorarmos nossos processos. Não temos problema algum em receber a primeira ação tão ostensiva das redes sociais, como gostaríamos que outras entidades, estados e empresas estivessem recebendo, e realmente esperamos que esta experiência possa servir para que avancemos na construção das novas formas de participação e controle social trazidos pelo Digital.
Hoje, o Fora do Eixo representa o problema real, é o fato, o que precisa ser entendido é que nós na verdade, somos a reação ao problema real que precisamos enfrentar: as mudanças sociais dramáticas e a inadaptabilidade dos antigos modelos civicos de lidar com ela. Somos o pretexto pra um grande debate que precisa ser travado, e apesar da dor da injustiça, seguimos firmes acreditando que debate vai ganhar a profundidade necessária para que o Brasil encontre seus novos caminhos. Não. O Fora do Eixo não vai desmoronar de repente.

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