sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Uma entrevista com Pablo Capilé, do Fora do Eixo – Parte 2

rodaviva midianinja1 Uma entrevista com Pablo Capilé, do Fora do Eixo – Parte 2
26) O Fora do Eixo já indicou alguém para participar de governos? Quem?
Não, a rede Fora do Eixo nunca indicou alguém para participar de governos. No entanto, sempre que convidada a dar sua opinião sobre política pública e outras questões referentes, o faz.
27) Embora o FDE tenha entrado de cabeça no movimento Existe Amor em SP, contra Russomano e pró-Haddad, a secretaria de cultura de São Paulo está com Juca Ferreira, e com o chefe de gabinete Rodrigo Savazoni. Savazoni é da Casa de Cultura Digital e independente do Fora do Eixo. Você acha que o FDE mereceria mais espaço na gestão Haddad?
Não, não achamos. E temos participado de fóruns, conselhos e conferências envolvendo a sociedade civil. Acreditamos que esses são canais essenciais para fortalecer a democracia brasileira.
28) Quantas pessoas trabalham em período integral na rede Fora do Eixo?
Novamente vale dizer que estamos trabalhando com estimativas, tal como temos explicado ao longo das perguntas. A estimativa é que  600 pessoas trabalham integralmente e mais de 2 mil sejam colaboradores fixos, que participam de ações durante todo ano.
29) É obrigatório para quem trabalha em período integral no FDE morar nas Casas Fora do Eixo?
Não. A decisão de morar em uma casa, assim como a adesão a rede Fora do Eixo, é livre, espontânea e esclarecida, assim como definido em nossa Carta de Princípios.
30) Qual é a faixa etária dessas pessoas?
A rede Fora do Eixo é basicamente formada por jovens entre 16 e 35 anos. Porém há uma parcela pequena de 35 a 50. Atualmente a rede também possui crianças com faixa etária entre 09 meses e 15 anos.
31) Três pessoas diferentes me disseram que os integrantes do Fora do Eixo são pressionados a se relacionar amorosamente somente com outros integrantes do FDE. Quem quiser namorar com alguém de fora é convidado a sair do FDE. É verdade ou mentira?
Mentira. Cada um faz o que quer da vida. As relações afetivas não são determinadas por regras do movimento, mas construídas por cada indivíduo, a partir dos desejos de cada um. Sem o nome das   pessoas não é jornalismo, é especulação. E as garotas que vivem nas casas Fora do Eixo estão sendo absolutamente desrespeitadas com este tipo de afirmação. Isso sim é de um machismo intolerável. A Beatriz Seigner, por exemplo, se relacionou amorosamente com um dos integrantes da Casa São Paulo. Ninguém nunca foi convidado a sair por estar se relacionando com outra pessoa, outra mentira absurda.
32) Há relatos de que uma criança mora em uma Casa Fora do Eixo, apelidada "Bebê 2.0". Seria filho de dois militantes do FDE, mas seria criada coletivamente, por vários "pais" e "mães". O pai e mãe biológicos não teriam poder paterno sobre a criança. É verdade?
Mentira. O apelidado pelas mídias tradicionais de "Bebê 2.0" se chama Benjamin Juvêncio Ninni e hoje tem 09 meses. Ele é filho de Isis Maria Juvencio e Marco Ninni (pais biológicos), atualmente moradores da Casa das Redes localizada em Brasília/DF. Logicamente o pai e a mãe são os detentores do poder familiar, até mesmo porque isso decorre de lei. Na verdade, o Benjamin conta com a proteção e carinho de todas as pessoas da Casa, como uma grande família que lhe ampara.  As decisões sobre sua educação são dos pais, o apoio é coletivo. Assim, se algum dia resolverem se desligar da rede Fora do Eixo, logicamente continuam detentores da guarda e todos os demais direitos e deveres que o poder familiar acarreta. Ficaria apenas a saudade e o carinho que todos desenvolvemos durante o processo.
33) O Fora do Eixo criou diversas moedas virtuais: Cubo Card, Goma Card, Marcianos, Lumoeda, Palafita Card e Patativa. Como elas são utilizadas?
Não são moedas virtuais, são moedas sociais. Surge na economia solidária como alternativa, complemento ao capital que é bem escasso para os pequenos empreendimentos e empreendedores. Existem centenas de moedas sociais só no Brasil e cada uma possui características próprias. A do FdE Card é pautada no "velho" escambo, ou seja, a partir das trocas de serviços, produtos e saberes. Ex: um artista quer produzir um videoclipe. Para realizá-lo, ele precisará de equipe de produção; assessoria de imprensa, e outros serviços. Os coletivos da rede podem oferecer esses serviços, em troca, por exemplo, de shows ou outros serviços e/ou produtos que ele estiver disposto a oferecer.
A moeda social é considerada um instrumento de desenvolvimento, destinada a beneficiar o mercado de trabalho dos grupos que participam da economia de suas localidades. Seu uso é restrito e a sua circulação beneficia a redistribuição dos recursos na esfera da própria comunidade. O aumento da circulação de moeda social corresponde ao aumento das transações realizadas pelos participantes dessa economia, que por sua vez aumenta o desenvolvimento social.
34) Por quê criar diversas moedas, e não uma só?
Justamente para fortalecer a lógica da descentralização. A gestão e administração próprios de cada coletivo promove mais autonomia para cada um deles. A idéia não é ser um único banco que centraliza as pequenas moedas, tampouco um único empreendimento que centraliza os pequenos coletivos. A lógica das redes é unir uma série de pequenos que conectados conseguem ganhar escala de produção, barateando custos através dos corredores que são abertos para a circulação de pessoas (artistas, produtores e jornalistas); a distribuição de produtos; a formação / qualificação dos profissionais envolvidos nessa cadeia, e principalmente, a comunicação das atividades que são realizadas.
35) Essas moedas virtuais podem ser trocadas por reais? Se sim, qual o câmbio? Se não, por quê não?
Tudo é uma questão de negociação de caso a caso. Há a possibilidade de trocar cards por reais, se devidamente negociado entre as partes. O câmbio é R$ 1 = FdE$ 1. Porém, a lógica do card prioriza a troca de serviços, produtos e saberes.
36) Quem trabalha para o Fora do Eixo recebe em moedas virtuais. Se sair do FDE, o que vai fazer com suas moedas virtuais?
Essa afirmação não está correta. Assim como em muitas organizações, na Rede Fora do Eixo existem os integrantes associados que trabalham pelo (e não para) seu empreendimento e parceiros que estabelecem relações pontuais. Ambas as formas utilizam das moedas real (R$) e social. A diferença é que o associado participa do sistema do caixa coletivo, fazendo suas retiradas por necessidades (de sobrevivência, necessidades individuais e de desenvolvimento de projetos) e o parceiro pontual estabelece um valor X por cada atividade.
Quem sai do caixa coletivo, sai com seus pertences pessoais (mesmo os que foram adquiridos dentro do processo) e os próprios ativos que a rede lhe proporcionou. Ex: contatos, networking, conhecimentos técnicos, metodológicos e linguísticos, etc. Inclusive muitos dos ex-integrantes conseguem melhores colocações no mercado do que os oferecidos antes de entrarem na rede. Além disso, os ex-integrantes continuam estabelecendo parcerias pontuais assim como os que nunca entraram, em card e em real.
37) No site da Casa Fora do Eixo, há, em destaque, um logotipo da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Qual o valor do apoio da Secretaria à Casa Fora do Eixo?
R$ 15 mil reais em 2 parcelas. A primeira de R$ 10.500,00 e a segunda de R$ 4.500,00.
38) O Estado de São Paulo é governado pelo PSDB. O Fora do Eixo aceita apoio de governos de qualquer partido?
As políticas públicas não são partidárias. Não acreditamos em política de governo, acreditamos em políticas de estado. O Estado não é o PT e muito menos o PSDB ou qualquer outro partido! Alguns partidos estão abertos ao dialogo e outros não, mas as politicas públicas independem deles.
39) O governador Geraldo Alckmin foi o principal alvo das manifestações em São Paulo. Você vê alguma contradição em receber apoio de um governo e militar contra ele?
Não, de forma alguma. A resposta da pergunta anterior já explica a questão. A participação em editais públicos não significa alinhamento partidário.
40) A homepage do Portal Fora do Eixo traz três patrocínios federais: Ministério da Cultura, programa Cultura Viva e Programa Mais Cultura. Isso não provoca no leitor uma ideia imediata de vinculação entre o FDE e o governo federal?
As marcas estavam lá, pois este foi um dos 67 projetos premiados pelo Prêmio Pontos de Mídia Livre do Ministério da Cultura, por meio do Programa  Nacional de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva. E como de praxe, é necessário a aplicação das logomarcas do Ministério, do Programa e do Governo Federal.
41) O que é o Partido da Cultura? É ligado ao Fora do Eixo?
O Partido da Cultura (PCult), movimento supra partidário (partido vem de “tomar partido”), foi criado em 2010 coletiva e solidariamente por meio da internet, com o objetivo de expor problemas e sugerir soluções que sejam operadas a partir de decisões políticas e institucionais de partidos políticos, candidatos a cargo eletivo e ocupantes de cargos públicos.
O movimento acompanha o debate de centralidade da cultura na agenda nacional, tal qual os batidos verbetes saúde, segurança, educação. O PCult aglutina diversas pessoas, entidades, redes e movimentos de todos os estados do país em torno de temas diversos, sempre na esfera cultural.
A rede Fora do Eixo é um dos movimentos integrantes do PCult, e inspirando-se em sua experiência fundou em 2012 o Partido Fora do Eixo (partido, nome fantasia), entendendo-o enquanto um laboratório de formulações de políticas de redes, com fortes referências em campos teóricos e práticos que vem sendo formulados pela sociedade civil em fóruns e instâncias de debates culturais ao longo dos últimos 10 anos. A proposta é estabelecer metodologias de trabalho próprias, novas e dinâmicas, que reforcem os processos de formação política e a afirmação de novas dinâmicas comportamentais pautados em princípios de colaboração e compartilhamento.
42) No site do Partido da Cultura, o último post é de janeiro de 2012. No twitter, de março de 2012. Ele está ativo? Pretende se constituir como partido regular e disputar eleições?
Não, ele não está ativo. E nunca foi o propósito disputar eleições ou se constituir como partido regular. Ele foi criado para levar a Cultura para o centro do debate nas Eleições de 2010. O PCult foi criado para isso, para debater políticas Públicas para a Cultura e promover o debate em torno disso.
43) O FDE vem se aproximando de Marina Silva e seu projeto de partido, a Rede, inclusive colaborando na campanha de assinaturas. Há alguém indicado pelo FDE na executiva da Rede?
Não, ninguém.
44) Se Marina Silva vencer a eleição para presidente, o FDE pretende indicar o ministro da cultura?
Se a Marina Silva vencer a eleição, será de direito e dever da mesma indicar seus ministros.
45) O Fora do Eixo costumava proclamar a política do "pós-rancor". O termo "pós-rancor" é criação de Claudio Prado, chefe do programas de cultura digital do Ministério da Cultura na época de Gilberto Gil e Juca Ferreira. Segundo a teoria do pós-rancor, as tensões entre capital e trabalho estão superadas, o conflito agora é entre quem tem informações e quem não tem. Cláudio Prado é muito próximo do FDE, tem até programa na Pós TV. Mas nas manifestações de rua, o que não falta é rancor e polarização, ainda mais nos últimos protestos. O "pós-rancor" morreu?
O conceito do Pós Rancor não defende que não devemos sentir rancor ou que não tenhamos memória histórica de todas as injustiças acumuladas pela humanidade. Pelo contrário, reconhece seu contexto e condição e propõe ações propositivas, ou seja, luta em favor de causas e não contra. Essa mudança de olhar foi decisiva para o entendimento da lógica da abundância e da potência, da superação do medo e do protagonismo na rede.
46) Uma fonte me disse que o Fora do Eixo costuma apoiar determinados candidatos em eleições municipais e estaduais, com os militantes trabalhando diretamente nas campanhas. Se o candidato vence, o Fora do Eixo indica gente para a secretaria de cultura, geralmente pessoas que não são do FDE, mas próximas. Seriam mais de dez secretários da cultura no Brasil. É verdade?
Não. A rede Fora do Eixo, enquanto rede, não costuma apoiar candidatos em eleições municipais ou estaduais, o que acontece é que cada coletivo e/ou membro de coletivo tem total liberdade de apoiar ou não uma candidatura, mas isso se torna uma posição dele, dentro de seu território. Livre e autônoma.
47) A Mídia Ninja, como a Pós-TV, é do Fora do Eixo. O FDE recebe verbas de grandes corporações, como Vale e Petrobras. O Fora do Eixo financia a Mídia Ninja, que critica o grande capital, e principalmente a grande mídia. Afinal, FDE e a Mídia Ninja são contra o grande capital ou a favor?
Primeiro que já organizamos milhares de eventos e somente em um a Vale foi patrocinadora, no Congresso de 2011 e somente em 2 projetos das centenas que realizamos foi apoiado pela Petrobras. A rede Fora do Eixo não prega a revolução armada como metodologia de transformação social. Para entender a rede, é preciso tomar emprestado um pouco o conceito do que é Economia Solidária: “Trata-se de uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza (economia) centrada na valorização do ser humano e não do capital. Tem base associativista e cooperativista, e é voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços de modo autogerido, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida. Preconiza o entendimento do trabalho como um meio de libertação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista”.
Muitos costumam dizer que a lógica da Economia Solidária é a de um cupim no sistema capitalista. Ele “come” o sistema por dentro, muitas vezes, sem os “donos” da casa tomarem conta de sua ação.
48) Diversos apoiadores do FDE trabalham ou trabalharam na grande imprensa. A principal figura da Mídia Ninja, Bruno Torturra, trabalhou anos na Editora Trip, chegando a diretor de Redação. Contratou, demitiu, controlou orçamentos. Além da Trip, a editora faz revistas pra grandes corporações, como Gol, Pão de Açúcar e Audi. Seu emprego mais recente foi na TV Globo, como redator do programa Esquenta, com Hermano Vianna e Regina Casé. Você vê alguma contradição nisso?
Não. O fato de uma pessoa ter trabalhado em veículos da mídia tradicional não impede que ele em determinado momento assuma outra atividade, que questione esta mídia. Acreditamos, inclusive que esta experiência é parte fundamental para esta tomada de consciência e atitude.
49) Você acha que quem participa dos protestos tem consciência de que a Mídia Ninja e o FDE recebem apoio financeiro de grandes empresas, e governos de diversos partidos?
Achamos que essa é uma preocupação que não procede. A Mídia Ninja nunca recebeu apoio financeiro de grandes empresas, governos ou partidos. A rede Fora do Eixo, no caso dos projetos financiados com essas fontes de recursos, deixa sempre explícito com aplicação das marcas.
50) O Fora do Eixo costumava ser muito ativo nas redes sociais. Mas no auge das manifestações em S. Paulo, você abandonou o Twitter. Entre 11 e 18 de junho, não publicou nada, sendo que a manifestação em que a repórter da Folha foi ferida no olho aconteceu no dia 13. Coincidentemente, o twitter do Fora do Eixo tb não publicou nada entre 13 e 22 de junho. Vc só voltou ao twitter pra divulgar as transmissões da Mídia Ninja e pra anunciar que o prefeito Haddad ia baixar as tarifas. Por quê?
A rede Fora do Eixo esteve amplamente envolvida nas manifestações. Integrantes dos coletivos de todo país saíram às ruas para protestar e difundir o que acontecia em cada território, principalmente nossa equipe de comunicação, que esteve focada prioritariamente na ação da Mídia Ninja. Por isso a opção foi em usar os canais do Ninja, ao invés do Fora do Eixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.