terça-feira, 30 de julho de 2013

Funcionário desenha bandeira do Brasil no carpete do Senado e cria ‘ponto turístico’ para visitantes

30/7/2013 às 00h30 (Atualizado em 30/7/2013 às 08h10)
Há 15 anos, auxiliar de serviços gerais decidiu homenagear filho e agradou ao chefe
Kamilla Dourado, Do R7, em Brasília
Auxiliar do Senado retoca desenho com aspirador toda semana Célio Azevedo/ Agência Senado
O desenho é delicado, mas os gestos para construí-lo são firmes. Com uma escovinha de aspirador de pó, centímetro por centímetro, o encarregado de serviços gerais Clodoaldo Silva retoca os 2 m² da bandeira nacional desenhada no carpete azul-royal, que passou a decorar a área localizada na base da Mesa do Senado Federal. É aquela bandeira que aparece na televisão quando os senadores estão em votação.
Os emblemáticos desenhos são definidos em um jogo de luz formado pelos relevos, ora em tom mais claro, ora mais escuro. Silva explica que, com o tempo, aprimorou a técnica para representar a bandeira brasileira.
— Agora é mais fácil, mas no começo eu tinha mais trabalho para fazer o desenho.
O auxiliar não tinha intimidade com o desenho. Em casa, rabiscava carrinhos e casas, mas nada sofisticado. No ano em que começou como auxiliar de serviços gerais, costumava brincar de fazer desenhos abstratos no carpete, o que não agradou muito o chefe na época.
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No ano em que o filho Marcus Vinícius nasceu, Silva ganhou inspiração, pegou o equipamento de trabalho, alisou as cerdas, aspirou daqui, escovou acolá e pronto: surgiu uma belíssima bandeira do Brasil.
—  Tinha um espaço vago lá, em branco, que eu achei que podia servir para fazer algo bonito.
Até as cerdas se acostumarem com o traçado, que começou em 1998, Silva contava com a ajuda de um aspirador para moldá-las e esculpir a bandeira nacional. Hoje o trabalho é retocado uma vez por semana.
A obra em autorrelevo fez sucesso entre os colegas e agradou ao chefe, que autorizou a exposição do desenho. Clodoaldo nunca imaginou que o trabalho fosse durar tanto tempo, mas com a repercussão, a bandeira se tornou atração turística e história obrigatória das visitas guiadas ao Senado. Dessa parte, Silva gosta muito.
— Eu fico muito orgulhoso, principalmente quando as crianças veem e ficam admiradas. Gosto muito também quando muitos turistas pensam que a bandeira é pintada no carpete e não apenas desenhada com a escova do aspirador!
O filho também tem admiração pela homenagem feita pelo pai. Silva já levou o garoto, agora com 15 anos, para apreciar o tributo.
— Ele falou “legal, legal”, com aquele jeito de adolescente.
Bandeira brasileira faz parte do cotidiano dos senadores. Na foto, obra se destaca no plenário da Casa Paula Cinquetti/01.02.2013/Agência Senado
Novos desenhos
Em 2002, a bandeira nacional ganhou duas ilustres companhias no carpete azul do Senado. Primeiro, o ajudante de serviços gerais desenhou o Congresso Nacional. Dois anos depois, a Catedral de Brasília virou “vizinha” da bandeira e do Congresso Nacional no carpete do Senado.
— Não é difícil desenhar, as obras de Niemeyer são lindas, mas também são muito simples. Os traços são simples e não dão trabalho.
Tímido, Silva se recusa a falar sobre política e justifica.
— Estamos em uma Casa política, pode dar problema.
Mas quando questionado sobre os protestos que sacudiram o País, ele é categórico e incentiva as manifestações.
— Não pode parar não, tem que continuar. Se eles param lá [na rua], aqui também para. [...] Eu só não gosto de bagunça, da baderna, mas sou a favor dos protestos na rua. Eu apoio, acho bonito.
Assim como os jovens que saíram às ruas e marcaram a história do País, Silva tem a certeza de que deixou a contribuição e o nome dele na história do Senado Federal.

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