- Atualizada às
Policial lotado no Andaraí relata que colegas de farda estariam ameaçando jovens inocentes no local. Moradores contam casos de ameaças e abusos de autoridade

Policiais ameaçam a vida de jovens em comunidades pacificadas
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
“Estou alertando a garotada de que
existem pessoas marcadas para morrer. Eles ameaçam os moradores dizendo
sobre a existência desta lista, e os moradores podem confirmar, não é
novidade. Mas, como sei que são garotos da comunidade, eu mesmo pedi
para que eles não saíssem tarde de casa, para ninguém forjar nada contra
os meninos”, disse o PM, que pediu anonimato.
Jorge Bidu foi além: “Cansamos de ficar calados. A
UPP é muito bem-vinda no Andaraí. Somos a favor e confesso que estamos
vivendo melhor com ela. Mas tem um grupo de policiais que precisa sair,
pois eles estão ameaçando e batendo nos moradores”, denunciou.Uma mãe, que diz ter visto o filho de 15 anos ser agredido pelos policiais, denuncia que esse grupo de PMs destruiu câmeras de segurança no morro: “Após baterem no meu filho, eu perguntei por que as câmeras foram retiradas. Eles disseram que tiraram para ninguém ver quando jogarem um no valão. Depois, me deram um tapa na cara”, disse a mulher.
O DIA constatou as câmeras quebradas. Algumas, que ficavam localizadas próximo à base da UPP, foram completamente arrancadas do local, restando apenas a fiação arrebentada. Em nota, o comandante da UPP do Andaraí, capitão Victor de Souza, diz que recebeu as denúncias dos moradores no último dia 20 e imediatamente instaurou procedimento apuratório, que está em andamento. O comando da UPP Andaraí ressaltou que não possui câmeras de segurança e que os equipamentos pertencem a comércios e não são usados para monitoramento.
Jovem diz que foi obrigado a comer fezes de cachorro
Ao lado da mãe que denunciou os PMs, um
menino de 15 anos relatou como foram as agressões e humilhações
sofridas: “Estava soltando pipa, e eles falaram que o local certo de
soltá-la era no alto do morro, que ventava mais. No meio do caminho
disseram que eu ia morrer, pois eu estava com drogas. Então, tirei um
sanduíche do bolso,que minha mãe tinha feito, e disse que só tinha
aquilo. Eles abriram o sanduíche, colocaram cocaína, maconha e cocô de
cachorro e me obrigaram a comer”, contou, para depois concluir: “A minha
sorte foi que os moradores avisaram para minha mãe, que chegou gritando
no alto do morro”.

Bidu, da associação demoradores, classifica o caso como‘inaceitável’
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
O grupo de moradores, com um caderno de
anotações, deu nomes aos PMs acusados: ‘Sargento Ferreira’, ‘Maia’,
‘Cristiano’, ‘Saião’ e ‘Navarro’. Um jovem relata que, sábado,
‘Ferreira’ teria perguntado aos meninos quando eles iam arrumar armas
para brincar de ‘polícia e ladrão’. “Ele disse que sabia que éramos
vagabundos e que só esperava a gente arrumar armas porque matar
desarmado não teria graça”.
Oficial é acusado de furto
Outro morador relata que teve os
documentos furtados por um dos oficiais, que ainda o teria obrigado a
quebrar o próprio celular. “Ele me revistou e pegou minha carteira de
trabalho e a identidade. Logo depois começou a mexer no meu celular e
colocou um funk para tocar que estava na memória. Ele disse que funk era
coisa de bandido e ordenou que eu quebrasse o celular”.

A UPP do Morro do Andaraí foi inaugurada em julho de 2010
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Jorge Bidu, presidente da associação, reafirma que as agressões e ameaças representam atitudes de grupo isolado de policiais.
“Precisamos que eles sejam substituídos
por policiais que realmente estejam comprometidos em pacificar a
região, como é o caso de muitos aqui. É um trabalho de longo prazo, que
eles não entendem. Tem gente que olha a polícia como uma oportunidade de
estar segura. Então, isso é inaceitável”.
ANISTIAS SÃO SUSPENSAS PELO NOVO ‘01’
Ao ser anunciado como novo comandante da PM, o coronel José Luís Castro Menezes avisou, ontem à tarde, que vai suspender o decreto que anistiou os policiais punidos por faltas administrativas. A decisão, que derrubou o antecessor, coronel Erir Ribeiro da Costa Filho, será analisada caso a caso, e a corporação estabelecerá critérios de merecimento para evitar dúvidas e erros nos benefícios.

Coronel José Luís Castro Menezes substitui Erir Ribeiro no comando da PM
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
“A ideia é boa, mas vamos estabelecer
critérios e objetivos”, adiantou Luís Castro, praticamente despejando pá
de cal no decreto assinado quinta-feira por Erir e que beneficiava
cerca de 450 PMs que respondem por infrações classificadas como leves.
Revisar o passado, aliás, será o centro do trabalho de Luís Castro. O oficial era responsável pelo policiamento de dez batalhões da PM na área onde ocorreram justamente os maiores confrontos entre policiais e manifestantes no Rio. Ele admite que a polícia aprendeu com os protestos e a lição trouxe novos métodos de trabalho à PM, capaz de garantir menos vítimas e baderna nas ruas.
“Temos buscado, desde o início, a medida certa
para lidar com as manifestações.Se nós fizermos uma retrospectiva das
manifestações, podemos concluir que a atuação da PM está mudando em cada
uma dela. Nas três ou quatro últimas, não tivemos conflitos”, analisa o
coronel, que abriu as portas do Quartel-General da PM aos ativistas.Revisar o passado, aliás, será o centro do trabalho de Luís Castro. O oficial era responsável pelo policiamento de dez batalhões da PM na área onde ocorreram justamente os maiores confrontos entre policiais e manifestantes no Rio. Ele admite que a polícia aprendeu com os protestos e a lição trouxe novos métodos de trabalho à PM, capaz de garantir menos vítimas e baderna nas ruas.
O mais jovem coronel a ocupar o cargo de comandante da PM, Luís Castro, de 47 anos, avisou que manterá a mesma linha de trabalho de Erir Ribeiro. “A nossa ideia não é reinventar a roda. Já existe um planejamento estratégico operacional. Vamos discutir mudanças e, é claro, que ajustes deverão ser feitos”, pontuou o oficial.
Entre as mudanças anunciadas estão as nomeações dos novos chefes de Estado-Maior da PM: os coronéis Paulo Henrique de Moraes (operacional) e Ricardo Pacheco (administrativo). Os três foram escolhidos após duas longas reuniões do secretário de Segurança José Mariano Beltrame com assessores. A opção por Castro foi de um homem com um perfil mais de gestor do que combatente, com gosta para análise de estatísticas e logística.
Secretário afirma que faltou sensibilidade a Erir Ribeiro
Bem mais do que a anistia aos policiais, a queda do ex-comandante Erir Ribeiro da PM foi construída ao longo dos últimos meses. Foram decisões unilaterais e intempestivas que colocaram em xeque as condições de o coronel seguir à frente da tropa.
Durante a apresentação do novo comandante, o secretário José Mariano Beltrame admitiu que tomou a decisão de exonerar o oficial pelo conjunto da obra.
“Nos últimos dois meses, o comandante fez alguns movimentos que foram apresentados num momento em que a sociedade exigia transparência do estado, sensibilidade. Esses movimentos geraram um desgaste. Chegamos a conclusão que seria melhor para todos nós”, admitiu.
Sem saber o destino do coronel Erir Ribeiro — ‘Não sei se vai parar, se vai para casa’—, Beltrame fez questão de agradecer a dedicação do ex-chefe da PM. Mas seus colaboradores afirmam que o oficial, insubordinado, prestava contas direto ao governador Sérgio Cabral, sem consultá-lo, o que não deverá ocorrer com Luís Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.